Risco do VSR para pacientes com doenças crônicas

Um vírus que atinge majoritariamente recém-nascidos, causando bronquiolite. Mas que também é um risco para idosos e pessoas com doenças…

Um vírus que atinge majoritariamente recém-nascidos, causando bronquiolite. Mas que também é um risco para idosos e pessoas com doenças crônicas respiratórias, provocando agravamento do quadro de saúde e podendo levar a hospitalização. Esse é o vírus sincicial respiratório, também conhecido pela sigla VSR.

O VSR provoca sintomas similares aos de uma gripe forte. Suas formas de prevenção também são parecidas: adotar medidas de higiene e evitar contato com pessoas doentes. Recentemente, a vacinação tornou-se uma aliada no combate à doença.

Confira abaixo a entrevista com o dr. Ricardo Amorim, médico pneumologista, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e presidente eleito da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) para o biênio 2025-2026. Ele detalha os cuidados necessários e o risco do VSR para pacientes com doenças crônicas.

O que é o VSR e como ele é transmitido?

O vírus sincicial respiratório (VSR) é um paramyxovirus que é uma importante causa de doença respiratória, incluindo a infecção respiratória aguda grave (SARI), conhecida por causar bronquiolites e pneumonia em crianças pequenas. A sua transmissão ocorre por meio de gotículas respiratórias durante a fala, tosse ou espirro. Embora a fase contagiosa dure cerca de 3 a 8 dias, no caso de pessoas com imunodeficiências e doenças respiratórias crônicas, além de idosos, podem permanecer infectantes por até 4 semanas.

O VSR pode atingir adultos também?

Embora a maior parte da atenção seja dada à infecção em crianças pequenas, a carga de VSR em adultos acima de 60 anos é de fato considerável. No entanto, esse fato é frequentemente ignorado, e o VSR em idosos geralmente não é reconhecido. Isso é especialmente verdade no Brasil, onde o foco maior é para outros patógenos em populações idosas (influenza e, mais recentemente, vírus da Covid-19). Cerca de 25% dos adultos mais velhos com infecção por VSR precisarão de hospitalização. Já em países desenvolvidos, o VSR é responsável por entre 4% a 12% de todas as hospitalizações por insuficiência respiratória aguda em adultos com mais de 60 anos de idade, taxas comparáveis às do vírus da influenza. Isso indica que ainda é necessário aumentar a conscientização profissional e pública no Brasil sobre a importância clínica do VSR em adultos mais velhos.

Como é feito o diagnóstico do VSR?

O médico deve levar em consideração a história clínica do paciente, a época do ano e a circulação do vírus. Também deve solicitar exames como testes rápidos de antígeno em swab nasofaríngeo (teste com um cotonete longo e estéril aplicado na região nasal e faríngea) e secreções respiratórias; ensaios moleculares, como a reação em cadeia da polimerase, conhecido como PCR (exame laboratorial feito após coleta de amostra de sangue) e cultura do vírus (pouco prática e acessível).

Qual o risco do VSR para pacientes com doenças crônicas? Ou o que esse vírus pode causar em adultos com doenças cardiorrespiratórias, como a DPOC?

A infecção por VSR pode piorar os sintomas dessas condições, podendo levar à hospitalização e causar até morte. Aquelas que se recuperam podem passar por longos períodos de limitações clínicas e físicas, tornando-se dependentes de cuidados por tempo prolongado. As crianças são as transmissoras do VSR para os adultos, especialmente os idosos e portadores dessas doenças crônicas. A infecção poderá causar descompensação dessas doenças e levar à hospitalização e suas consequências.

Como as pessoas podem se prevenir?

O Palivizumabe é um anticorpo monoclonal que pode ser usado para prevenir bronquiolite em recém-nascidos de alto risco, como bebês prematuros (menos de 35 semanas de gestação) ou com problemas cardíacos ou respiratórios congênitos. O medicamento é aplicado por via intramuscular e a profilaxia dura geralmente 5 meses.

Já para adultos com 60 anos ou mais, a vacinação contra o VSR é uma medida importante para prevenir infecções respiratórias graves nessa faixa etária.

Além da vacinação, medidas de higiene podem ajudar a prevenir a disseminação da infecção. Entre elas estão: manter mãos e superfícies do domicílio limpas, evitar tocar o rosto com as mãos, evitar contato próximo com pessoas doentes, cobrir a boca e nariz ao tossir e espirrar e, se doente, manter repouso domiciliar para evitar infectar outras pessoas.

Quais são as indicações da vacina contra o VSR para adultos com mais de 60 anos? Como as pessoas podem ter acesso a ela?

A vacina está indicada para imunização ativa para a prevenção da doença do trato respiratório inferior causada pelos subtipos do vírus sincicial respiratório VSR-A e VSR-B em adultos com 60 anos de idade ou mais. Atualmente o acesso está disponível nas clínicas privadas de imunização, esperando-se que seja futuramente incorporada no sistema público de saúde.

Se uma pessoa com doença crônica como a DPOC e a insuficiência cardíaca é diagnosticada com VSR, o que ela deve fazer? Quais cuidados deve tomar?

De fato, o vírus sincicial pode afetar negativamente pessoas com condições crônicas como asma, DPOC ou insuficiência cardíaca. Primeiro, pessoas nessas condições que apresentem sintomas gripais devem comunicar ao médico para que medidas de diagnóstico sejam tomadas. No caso de uma infecção pelo VSR, o médico assistente poderá avaliar a gravidade do caso para julgar se uma hospitalização será necessária ou se um acompanhamento ambulatorial de perto será suficiente.