

Iniciativa do Departamento de Fisioterapia da UFRN oferece atendimento gratuito no Hospital Universitário Onofre Lopes Um projeto de extensão do…
Iniciativa do Departamento de Fisioterapia da UFRN oferece atendimento gratuito no Hospital Universitário Onofre Lopes
Um projeto de extensão do Departamento de Fisioterapia (DFST) do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CCS/UFRN) oferece atendimento para pacientes diagnosticados com hipertensão pulmonar. A ação ocorre no Laboratório PneumoCardioVascular do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL/UFRN), e inclui avaliações funcionais e respiratórias para o tratamento da doença.
Coordenado pelas professoras Vanessa Resqueti e Joceline Ferezini, o projeto “Acompanhamento Fisioterapêutico da Capacidade Funcional e Respiratória de Pacientes com Hipertensão Pulmonar” mobiliza equipe interdisciplinar de fisioterapeutas, médicos, docentes e estudantes de graduação e pós-graduação.
Na entrevista a seguir, representantes do projeto falam à Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas(ABRAF) sobre a criação da iniciativa, os desafios enfrentados pelos pacientes no Rio Grande do Norte e o papel do atendimento interdisciplinar no cuidado contínuo.
ABRAF_ Como foi o início do atendimento gratuito para pacientes com diagnóstico de hipertensão pulmonar e há quanto tempo há o projeto de extensão do Departamento de Fisioterapia (DFST) do Centro de Ciências da Saúde (CCS/UFRN)?
O projeto de extensão do Departamento de Fisioterapia da UFRN foi criado em 2018, a partir do aumento da demanda por testes de caminhada de 6 minutos (TC6min) no setor de reabilitação cardíaca do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), especialmente para pacientes com diagnóstico de hipertensão pulmonar (HP).
As professoras Joceline Ferezini de Sá, Selma Bruno e Vanessa Resqueti, docentes do curso de Fisioterapia e responsáveis pelo projeto, lideraram a criação da iniciativa para avaliar, acompanhar e orientar pacientes cardiopatas e pneumopatas com HP em tratamento ambulatorial no HUOL.
Desde sua criação, o projeto nunca esteve inativo, tendo sido afetado apenas durante o período crítico da pandemia de COVID-19, quando as atividades presenciais foram suspensas por questões sanitárias.
O projeto desempenha um papel fundamental na avaliação da capacidade funcional dos pacientes por meio do TC6min, cujo laudo é indispensável para poderem solicitar e renovar, junto à Unidade Central de Agentes Terapêuticos do Rio Grande do Norte (UNICAT), os medicamentos de alto custo necessários ao controle e tratamento da doença. Essa iniciativa promoveu uma valiosa troca de conhecimentos entre a universidade e a comunidade.
No projeto, profissionais e docentes dos cursos de Medicina e Fisioterapia, médicos especialistas (cardiologistas, pneumologistas e reumatologistas), fisioterapeutas, bem como discentes da graduação e pós-graduação em Fisioterapia, atuam em conjunto, aplicando teorias e técnicas acadêmicas em um contexto prático. Os pacientes são submetidos não apenas ao TC6min, mas também a testes de função pulmonar e avaliações de qualidade de vida, além de receberem orientações baseadas em evidências científicas atualizadas. Isso contribui diretamente para o entendimento e o manejo adequado da sua condição, bem como para a promoção de um estilo de vida ativo.
É importante destacar que, paralelamente ao projeto de extensão, os pacientes também são convidados a participar de diferentes pesquisas desenvolvidas no Laboratório Pneumocardiovascular do HUOL-UFRN, o que amplia o conhecimento sobre a patologia e aprimora o manejo clínico. Atualmente, o projeto de extensão e todas as pesquisas associadas são coordenados pela Professora Vanessa Resqueti, com coorientação da Professora Joceline Ferezini de Sá, e apoio das doutorandas Natália Lopes e Ilsa Priscila dos Santos, do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da UFRN.
ABRAF_ Quais são os principais desafios enfrentados pelos pacientes com hipertensão pulmonar no Rio Grande do Norte?
Atualmente, o maior desafio no Rio Grande do Norte é garantir o acesso à assistência médica e multiprofissional especializada, bem como assegurar o acompanhamento contínuo, seja clínico ou medicamentoso. Muitos pacientes precisam se deslocar até quatro horas para conseguir atendimento com profissionais qualificados e com experiência no manejo da HP, devido à escassez de especialistas nos serviços públicos de saúde em grande parte do estado. O Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL-UFRN) se destaca como referência no atendimento e tratamento dessa população, mas a centralização dos serviços na capital agrava as barreiras geográficas e de acesso. Outro desafio importante é a dificuldade no encaminhamento para médicos cardiologistas ou pneumologistas especializados, o que compromete a realização de um diagnóstico correto e precoce, levando, muitas vezes, a tratamentos inadequados ou iniciados tardiamente.
Ainda, há a recorrente dificuldade no acesso à medicação essencial, fornecida pela Unidade Central de Agentes Terapêuticos do Rio Grande do Norte (UNICAT-RN). Esses medicamentos, de alto custo e fundamentais para o controle da hipertensão pulmonar, nem sempre são distribuídos de forma regular. Os pacientes frequentemente relatam atrasos, falta de estoque e excesso de burocracia para manter o tratamento em dia, o que compromete sua saúde, aumenta o risco de complicações, eleva o número de internações e piora o prognóstico.
Esses dois fatores combinados — a escassez de atendimento especializado e a instabilidade no fornecimento de medicamentos — criam um cenário de insegurança e vulnerabilidade para os pacientes, evidenciando a necessidade urgente de ações que ampliem o acesso, qualifiquem o cuidado e garantam a regularidade do tratamento para essa condição crônica e grave no estado.
ABRAF_ Qual é o papel do projeto de extensão do Departamento de Fisioterapia da UFRN no atendimento a pacientes com hipertensão pulmonar no estado?
Esse projeto de extensão do Departamento de Fisioterapia da UFRN tem desempenhado um papel fundamental no cuidado aos pacientes com HP no Estado do RN. Com uma abordagem interdisciplinar e focada no atendimento humanizado, o projeto oferece acompanhamento regular, contribuindo significativamente para a melhora da qualidade de vida desses pacientes e auxiliando diretamente no prognóstico da doença.
Atualmente, o projeto é desenvolvido no HUOL-UFRN, onde a equipe de fisioterapeutas avalia especificamente a avaliação da capacidade funcional e da função pulmonar — etapas fundamentais para o monitoramento contínuo e o suporte especializado aos pacientes com HP. A equipe médica concentra-se em exames específicos para fins diagnósticos, o que associados, permitem um manejo clinico mais adequado.
Assim, o projeto cumpre uma função estratégica ao fornecer o laudo técnico indispensável para a solicitação e renovação de medicamentos junto à UNICAT-RN. Este documento é um requisito do sistema público de saúde para a liberação dos fármacos de alto custo utilizados no tratamento da HP. Sem esse suporte, muitos pacientes enfrentariam barreiras ainda maiores no acesso às medicações adequadas. Dessa forma, o projeto não apenas supre lacunas importantes na rede pública de saúde, mas também fortalece a autonomia dos pacientes no enfrentamento da doença, consolidando-se como um aliado indispensável no cuidado e suporte contínuo à população afetada.
ABRAF_ Qual é o diferencial da equipe interdisciplinar no cuidado a pacientes com hipertensão pulmonar no Rio Grande do Norte e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes atendidos pelo projeto?
O grande diferencial da equipe interdisciplinar é o olhar integrativo e humanizado, que proporciona um cuidado mais abrangente e centrado no paciente. Esse modelo favorece não apenas o bem-estar físico, mas também o emocional e social, promovendo orientações fundamentais sobre a patologia e o manejo adequado da hipertensão pulmonar (HP). Muitos pacientes com HP são jovens e vivenciam mudanças significativas em suas rotinas com o surgimento dos principais sintomas, como dispneia e fadiga, que limitam as atividades de vida diária. A atuação conjunta dos profissionais possibilita a identificação precoce dessas limitações e a elaboração de estratégias para a adaptação e melhora da qualidade de vida. Além disso, o trabalho interdisciplinar garante maior segurança no controle clínico e no acompanhamento da evolução da doença, promovendo uma atuação coordenada e sistemática. Essa segurança assistencial é fundamental para que o paciente se sinta acolhido e confiante, fatores que impactam diretamente na adesão ao tratamento e, consequentemente, na sua qualidade de vida. O seguimento regular, com consultas programadas a cada 3 a 6 meses, fortalece esse vínculo, permitindo um monitoramento contínuo e ajustes terapêuticos sempre que necessário. Assim, a equipe não apenas trata a doença, mas também promove mudanças no estilo de vida e oferece suporte integral ao paciente, contribuindo de forma decisiva para a melhoria dos seus resultados clínicos e do seu bem-estar geral.
ABRAF_ O projeto de extensão realiza atendimentos mensais a um número significativo de pacientes com hipertensão pulmonar (HP).
Na avaliação fisioterapêutica, que inclui testes funcionais, avaliações respiratórias e acompanhamento individualizado da qualidade de vida, são atendidos regularmente cerca de 8 a 10 pacientes por mês. Há um número ainda maior de pacientes acompanhados na avaliação médica, realizada por profissionais de saúde parceiros do projeto. Esse atendimento ampliado evidencia a relevância e o impacto positivo da iniciativa na rede de cuidados à HP no estado, oferecendo suporte especializado e contínuo em um contexto onde o acesso a esse tipo de acompanhamento ainda é bastante restrito. Atualmente, mais de 50 pacientes são acompanhados semestralmente, com consultas realizadas a cada 3 a 6 meses nos ambulatórios médicos do HUOL-UFRN, em estreita articulação com o projeto de extensão.
ABRAF_ Quais são os principais obstáculos enfrentados no cuidado a pacientes com hipertensão pulmonar no estado e como eles podem ser superados?
O cuidado dos nossos pacientes com HP no RN enfrenta uma série de desafios estruturais e sociais que comprometem o diagnóstico precoce, o acompanhamento adequado e a adesão ao tratamento. Um dos primeiros e mais graves obstáculos é a demora no diagnóstico. Essa imprecisão, advindo de demora em encaminhamentos a profissionais como pneumologistas, impactam nos diagnósticos iniciais, o que leva a um atraso no início do tratamento, influenciando no prognóstico dos pacientes.
Outro desafio significativo é a escassez de locais no estado que realizam TC6M — um exame fundamental para avaliar a capacidade funcional e acompanhar a evolução da doença. Sem acesso a esse teste, muitos pacientes ficam sem uma avaliação objetiva da sua condição clínica, indicada mundialmente como essencial, além de dificultar a retirada de medicação na UNICAT-RN. O único centro de acompanhamento especializado no estado concentra a maioria da demanda, o que pode gerar sobrecarga nos serviços, filas de espera e limitações no acesso, principalmente para pacientes que vivem em municípios mais distantes da capital, a maioria da população atendida nesse projeto. Somam-se a esses fatores as condições de vulnerabilidade social enfrentadas por muitos pacientes, que dificultam o acesso regular ao tratamento, e ao transporte até os centros de saúde. Para superar esses obstáculos, é fundamental investir na formação de profissionais da atenção primária para facilitar o diagnóstico precoce, expandir o número de serviços habilitados a realizar pelo menos o exame do TC6M, e descentralizar o atendimento especializado, criando novos núcleos de referência em outras regiões do estado. Também é necessário desenvolver políticas públicas que considerem a realidade social dos pacientes, com apoio ao transporte, fornecimento regular de medicamentos e programas de assistência integral que garantam continuidade e humanização no cuidado.
ABRAF_Quantos e quais são os ambulatórios que atendem pacientes com HP no Estado?
Até onde sabemos, o HUOL-UFRN é o único centro público no Rio Grande do Norte que acompanha pacientes com hipertensão pulmonar. O hospital oferece atendimento interdisciplinar especializado, garantindo cuidado continuado e qualificado para essa população.
ABRAF_ Pacientes que fazem acompanhamento em outros ambulatórios podem ser atendidos pelo projeto?
Sim, além do fluxo direcionado da comunidade, nosso projeto acompanha os pacientes oriundos de diversos ambulatórios do HUOL-UFRN, dentre estes, os ambulatórios de Pneumologia, Cardiologia e Reumatologia. Com o encaminhamento médico em mãos, o paciente consegue realizar a marcação da avaliação com a nossa equipe a partir do telefone (84) 3342-5198.
ABRAF_ O departamento tem planos em expandir o atendimento oferecendo também reabilitação cardiomiopulmonar para pacientes com HP? Pretende incluir fisioterapia respiratória?
Sim, queremos trazer a reabilitação e outros. Temos projetos de pesquisa em andamento o que nos auxiliará na instalação de um programa de reabilitação.