Que impactos a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) provoca na vida profissional de pacientes e no mercado de trabalho? Responder…
Que impactos a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) provoca na vida profissional de pacientes e no mercado de trabalho? Responder a essa questão foi o intuito de uma pesquisa realizada pela Firjan/SESI que envolveu 74 milhões de registros dos sistemas de Saúde e de Seguridade Social. O estudo contou também com um questionário online respondido por pacientes e familiares. Nessa fase da pesquisa, a Abraf foi uma das organizações de pacientes parceiras da Firjan/SESI.
Dados de 2019 mostram que no Brasil mais de 13 milhões de pessoas vivem com DPOC. A pesquisa reuniu relatos de pessoas diagnosticadas com a doença e que são usuárias do SUS ou do INSS, seja por recorrer aos serviços de saúde por tempo prolongado, seja por aderir a benefícios previdenciários, como o afastamento por auxílio-doença e a aposentadoria precoce. Dados previdenciários mostram que aproximadamente 20 mil pessoas estão afastadas do trabalho devido à DPOC.
O pesquisador da Firjan Leon de França Nascimento reforça que a DPOC tem uma carga ocupacional muito grande no país. Para ele, isso exige dos tomadores de decisão – do setor público, privado ou da sociedade civil – investir em diagnóstico precoce e em tratamento adequado para as pessoas que têm a doença. “A DPOC é o tipo de doença que, se a gente consegue identificar a pessoa no começo da sua jornada, a gente tem o potencial de mantê-la muito mais saudável, produtiva e participativa na sociedade, do que se identificar um caso de DPOC em estágio mais avançado”.
Entre o público pesquisado, 22% trabalham no setor terciário (saúde, educação, vendas), 29% se dedicam aos cuidados com a casa e 42% estão aposentados por idade ou por doença. A pesquisa identificou 6% de perda de produtividade profissional em razão da ausência ou afastamento do trabalho por DPOC. Há ainda uma perda de produtividade de 17% causada pelos sintomas da doença em trabalhadores que seguem trabalhando. “As empresas precisam ter cada vez mais consciência de que saúde é um investimento e quanto mais se trabalha de maneira preventiva na saúde, menores são os gastos decorrentes das ausências e de outros custos associados à perda de produtividade”, avalia Nascimento.
Em relação ao ambiente profissional, 86% dos pesquisados gostariam de receber atenção maior por parte de colegas e empregadores para que, conhecendo a doença, melhorem as condições de trabalho. Em relação aos impactos da DPOC na saúde ocupacional, em 72% dos casos, o diagnóstico impediu a continuidade das atividades no trabalho. Para além disso, a sensação de isolamento e o medo de perder o emprego em função da doença foram recorrentes entre os participantes da pesquisa.
Segundo o pesquisador da Firjan, o principal aspecto a ser considerado pelas empresas é o manejo e a evitabilidade da DPOC. “Quando a empresa fornece meios de monitorar a saúde desse trabalhador de maneira consistente e preventiva, a gente tem o potencial de entrar com um sistema de vigilância e acompanhamento de longo prazo para que ele consiga participar ativamente das suas equipes, evitando progressões na doença que o tirariam das atividades habituais”, esclarece.
Entre o público participante, 19% convive com DPOC há mais de 20 anos. A pesquisa indicou ainda dificuldade de agendamento de consultas com especialistas e falta de acesso a tratamento e medicamentos. Além disso, a taxa de letalidade da DPOC é de 10%, uma das mais altas do país quando comparada a outras doenças, como diabetes (4%) e hipertensão (2%).
Além do diagnóstico precoce, Nascimento chamou a atenção para outro cuidado necessário: a redução do tabagismo. Apesar da queda importante no consumo de tabaco nas últimas décadas – resultado de campanhas de conscientização e da taxação diferenciada – o cigarro eletrônico surgiu como novo risco para a saúde pública pelo crescente uso por adolescentes e jovens adultos.
O pesquisador da Firjan comemora a receptividade em relação à pesquisa, que tem sido usada por associações de pacientes e sociedades médicas como uma ferramenta de motivação de políticas públicas para a prevenção e o diagnóstico precoce de DPOC. De acordo com Nascimento, a abordagem do ponto de vista ocupacional pode também proporcionar argumentos no diálogo com gestores. Isso ocorre ao evidenciar que a doença – que poderia ser evitada – não termina no nível individual, mas impede pacientes de participarem ativamente do mercado de trabalho e de cuidarem de seus familiares. “Isso traz custos sociais muito relevantes que são necessários de serem evitáveis com tratamento e prevenção”, conclui.
A Firjan é uma organização sem fins lucrativos dedicada à promoção de saúde e qualidade de vida para os trabalhadores da indústria e toda a sociedade. A apresentação completa com os resultados da pesquisa “Avaliação dos impactos da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) na Saúde Ocupacional Brasileira” pode ser acompanhada aqui.