Exercício físico auxilia na reabilitação pulmonar de pacientes com HP

A falta de ar e o cansaço acompanham os pacientes de Hipertensão Pulmonar no seu dia a dia. Por isso,…

A falta de ar e o cansaço acompanham os pacientes de Hipertensão Pulmonar no seu dia a dia. Por isso, após o diagnóstico, muitos acreditam ser impossível praticar alguma atividade física. Mas os exercícios são parte importante da reabilitação pulmonar, que vai propiciar uma melhora na qualidade de vida. A prática, no entanto, precisa ser indicada e acompanhada por profissionais de saúde.

Para entender melhor sobre os benefícios e os cuidados necessários para a realização de atividades físicas, nós conversamos com a Dra. Roberta Pulcheri, médica pneumologista e orientadora do grupo de circulação pulmonar da Unifesp. O conteúdo abaixo é parte da live que realizamos com a dra. Roberta e que está disponível no canal da Abraf no Youtube. Resumimos as principais informações em tópicos. Boa leitura!

 

Quais dificuldades os pacientes de HP enfrentam para realizar atividades físicas?

A Hipertensão Pulmonar aumenta a resistência à passagem de sangue nos pulmões, fazendo com que o lado direito do coração se dilate e funcione de maneira anormal. Com isso, a oxigenação e a ida do sangue para o lado esquerdo do coração ficam comprometidas. E é esse lado esquerdo que bombeia o sangue para os outros órgãos do corpo.

No caso de uma caminhada, por exemplo, é preciso que mais sangue chegue nos músculos. O lado esquerdo do coração é que vai propiciar esse aumento do sangue. Porém, para isso é preciso que o sangue chegue nessa parte do coração na quantidade adequada. Se a quantidade não é adequada, o paciente enfrenta alguma limitação, principalmente quando há um aumento dessa demanda de oxigenação periférica.

No exercício, dependendo da intensidade, a quantidade de sangue que passa nos órgãos e nos músculos precisa aumentar até 5 vezes do que normalmente circula durante o repouso.

 

Como avaliar se a atividade é compatível com a condição física do paciente?

Para saber planejar qual atividade física é adequada para os pacientes, a equipe médica leva em consideração dois conceitos fisiológicos: capacidade máxima e nível de energia.

O cansaço para executar qualquer tarefa depende do quão próximo se está da capacidade máxima. Um atleta, por exemplo, tem uma faixa de nível de energia bem ampla. Já uma pessoa que possui alguma doença tem a capacidade máxima reduzida e a faixa de nível de energia menor. Isso ocasiona cansaço mesmo para níveis menores de esforço. Para fazer o cálculo de quais atividades são viáveis, a equipe médica e de fisioterapia utiliza o histórico clínico do paciente e exercícios complementares, como teste de caminhada de 6 minutos ou teste de exercício cardiopulmonar.

 

Qual a importância do exercício físico?

Até uns anos atrás a atividade física era contraindicada para pacientes de HP, pois se acreditava que ela era de risco. Mas para outras doenças cardiopulmonares crônicas já existe bastante evidência de que a atividade é importante. Novos estudos com exames complementares (principalmente o teste de caminhada e o teste de exercício cardiopulmonar) indicaram que a atividade física proporciona aumento da capacidade máxima tanto por meio de efeitos diretos na musculatura periférica, fazendo com que o paciente consiga executar atividade por períodos mais prolongados ou mais intensos, mas também tem efeitos diretos no lado direito do coração, com atuação benéfica na musculatura dos pulmões (melhora a força muscular da respiração) e até mesmo nas artérias.

Portanto, o exercício é benéfico para quem tem Hipertensão Pulmonar. Ele aumenta a capacidade máxima e o paciente consegue executar atividades da vida diária, ou mesmo atividades moderadas, sem ter tanta repercussão sistêmica. A reabilitação funciona às vezes como um remédio. Melhora a classe funcional, melhora os sintomas, melhora a capacidade física, melhora a capacidade máxima de energia que pode gerar e, consequentemente, melhora a qualidade de vida.

 

A atividade física é segura para pacientes de HP?

Nem todo paciente pode fazer exercício físico! É muito importante que antes de começar qualquer atividade física o paciente consulte a equipe médica. No geral, os critérios principais avaliados nessa decisão são:

– A dose da medicação estar estável;

– O paciente não ter tido desmaio recente;

– Caso o paciente faça uso de oxigênio, precisa ser avaliado de forma individualizada para indicação de oxigênio complementar durante esforço;

– Identificação de qual intensidade de esforço é possível;

– Estabelecimento de quais exercícios são contraindicados para cada paciente (em geral, atividades que envolvam abaixar com frequência, elevação dos braços e correr são contraindicadas)

A liberação para um tipo de exercício ou outro vai depender principalmente da estabilidade clínica. O paciente que está com medicação estável, não teve complicação recente, está com exames satisfatórios, pode estar no momento certo de ir para a reabilitação física.

 

Quais as principais dicas sobre exercícios físicos e HP?

Planejar: em toda a consulta tirar dúvidas com a equipe médica. Ter interesse sobre o tratamento e planejamento sobre o futuro. Discutir com a equipe médica qual o planejamento em relação à atividade física. Questionar se há programa de reabilitação supervisionado disponível na sua cidade e, caso não haja, perguntar que atividades estão liberadas com quadro estável.

Criar rotina: caso a prática de atividade seja liberada, é preciso levar em conta a oscilação do estado físico. Se está definido que a atividade física será realizada 3 vezes na semana, é importante estar atento para optar pelos dias em que se está com mais energia. Se já foi gasta muita energia no dia, por exemplo, indo no mercado, buscando medicamento ou se deslocando até a consulta, vai sobrar pouca energia para a atividade física. Nesse caso, é mais recomendado deixar o treinamento para o dia em que esse será o único esforço.

Estar atento ao horário dos remédios: muitos medicamentos para HP fazem cair um pouco a pressão sistêmica na primeira hora. Então o ideal é fazer atividade depois de pelo menos uma hora após tomar os medicamentos.

Estar sempre acompanhado: pacientes de HP não devem realizar atividade física sozinhos em hipótese alguma. E a pessoa que estiver junto precisa saber identificar sintomas da doença, como lábios roxos.

Estar em um local seguro: é importante que o ambiente não tenha quinas ou tapetes para evitar acidentes. Ao mesmo tempo, é interessante que tenha próximo uma cama ou sofá para que possa descansar após o treinamento e recuperar o fôlego.

Respiração: perguntar ao fisioterapeuta dicas de respiração. O principal é nunca prender a respiração em nenhuma atividade física e tentar sempre soltar todo o ar do pulmão.

Aquecimento: começar com atividade mais leve e depois do esforço tentar continuar com atividade mais leve para não ter queda muito rápida da pressão e evitar desmaio.

 

Quais equipamentos de academia devem ser evitados?

Equipamentos para melhorar o fortalecimento muscular, pois na maioria das vezes o paciente de HP está descondicionado. Em geral, no início o treinamento é prescrito com o próprio peso do corpo. Portanto, não se deve começar nenhum equipamento de fortalecimento muscular sem ter feito a avaliação prévia com a equipe médica. A demanda de oxigênio é muito alta e o gasto energético pode ser muito intenso nessas atividades.

 

O paciente deve monitorar batimentos cardíacos e saturação durante exercícios?

Essa é a situação ideal. Com a pandemia, o oxímetro foi muito divulgado, então muitas pessoas têm o aparelho em casa. A frequência cardíaca máxima é uma definição individual porque vai depender da capacidade máxima de cada pessoa diante do esforço. Se o paciente tem oximetria ele pode individualizar ali mesmo os exercícios baseado nessa frequência que a equipe médica orientou como sendo segura. A oxigenação também é individualizada e depende da etiologia da HP.

 

Se o paciente não tem queda na oxigenação, qual risco da atividade física?

Na atividade física o coração precisa bombear mais sangue para o corpo e isso pode gerar um estresse no coração, dor no peito, angina e também desmaio. Durante o exercício, o músculo está com os vasos bem dilatados para receber mais sangue. Isso pode reduzir a quantidade de sangue para outros órgãos importantes, como o cérebro, e o paciente desmaiar. Então o risco maior são desmaio e angina.

Para estar seguro, o paciente precisa conseguir manter uma conversa durante a atividade. Outro aspecto que merece atenção é a tontura. Ao primeiro sinal de escurecer a vista, é preciso parar imediatamente e sentar. Isso porque o escurecimento de vista antecede o desmaio. Esses são sinais de alerta que não podem ser forçado.

 

Pacientes em fila de transplante podem fazer atividade física?

É essencial que pessoas em fila de transplante estejam em um programa de reabilitação. Já está muito claro na literatura médica que a reabilitação pré transplante ajuda muito tanto na parte operatória quanto na recuperação pós-operatória. Mas em geral quem está na fila de transplante é o paciente que está com nível máximo de medicação, então nesses casos o exercício precisa ser supervisionado.

 

Há contraindicação para relações sexuais em razão do esforço?

Durante a atividade sexual o gasto energético é muito alto. Então ela é avaliada como uma atividade física e é preciso levar em consideração os mesmos critérios. Se o médico trocou o remédio na semana passada, provavelmente vai ser contraindicado a atividade sexual no momento. Com o quadro estabilizado e os sintomas controlados, pode ser feita. Caso o paciente use oxigênio, a orientação é para fazer atividade sexual com oxigênio. Não há contraindicação para relações sexuais, e sim uma orientação para que ela seja encarada como uma atividade física moderada ou às vezes intensa. É importante saber em que nível de energia o paciente está e como está o controle atual da doença.

É importante sempre conversar com o parceiro. O ideal é que o paciente ocupe a posição mais passiva, deixando que o parceiro execute os esforços mais intensos, de maneira que ambos tenham prazer sem prejudicar quem está com a doença. O parceiro tem que estar muito envolvido no cuidado com o paciente.