DPOC: entenda mais sobre a doença

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, popularmente conhecida pela sigla DPOC, se caracteriza pela obstrução das vias aéreas, o que torna…

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, popularmente conhecida pela sigla DPOC, se caracteriza pela obstrução das vias aéreas, o que torna a respiração difícil. Os principais sintomas são: falta de ar ao realizar esforço – que pode progredir até para atividades corriqueiras como trocar de roupa, por exemplo -, pigarro, tosse crônica e tosse com secreção.

O tabagismo é o principal fator de risco para DPOC, mas a poluição ambiental e a queima de biomassa que ocorre durante queimadas e uso de lenha para cozinhar também podem provocar reações inflamatórias. Normalmente, a doença tem evolução lenta, e por isso, muitos pacientes desenvolvem  sintomas já na vida adulta.

No Brasil, de acordo com dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) pela metodologia Global Burden of Disease (GBD), a DPOC é a quinta causa de morte entre todas as idades. Nas últimas décadas, foi a quinta maior causa de internação no Sistema Único de Saúde entre pacientes com mais de 40 anos, correspondendo a cerca de 200 mil hospitalizações.

O diagnóstico de DPOC costuma ser demorado, uma vez que grande parte dos pacientes se mantêm assintomáticos por um longo período, o que consequentemente adia o início do tratamento. Embora a DPOC não tenha cura, os tratamentos disponíveis melhoram a qualidade de vida dos pacientes e retardam a progressão da doença, controlando os sintomas, reduzindo as complicações e melhorando a função pulmonar. A orientação é de que ao sinal de qualquer sintoma, um médico pneumologista seja consultado.

 

Entrevista com especialista

Para entender mais sobre a doença, nós conversamos com o dr. Rafael Stelmach,  professor e colaborador do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), presidente da Fundação Pro Ar e membro do Comitê Científico da Abraf.

Como podemos explicar de forma simples o que é a DPOC?
DPOC é uma doença respiratória causada por inalação de fumaça e produtos que causam  uma inflamação que leva à destruição dos pulmões.

 

Quais sintomas os pacientes apresentam e como é feito o diagnóstico de DPOC?
Os sintomas começam na idade adulta, por volta dos 50 anos, e a gravidade está relacionada com a quantidade de inalação de fumaça. O  exemplo clássico é o tabagismo: quanto mais cigarro/fumaça a pessoa inala, pior será a DPOC. Mas cada fumante tem lesões pulmonares de acordo com sua resistência à agressão.

Os sintomas mais comuns são tosse e falta de ar (dispneia), que piora de acordo com o tempo de exposição à fumaça. O diagnóstico é clínico, dado pela quantidade de exposição (anos como fumante, por exemplo) seguido pelos sintomas citados e pela perda de capacidade pulmonar para realizar atividades normais, como andar ou correr.

 

Quais os principais fatores de risco da DPOC?
É importante saber quais interações com fumaça e produtos voláteis a pessoa teve. Os mais comuns na América do Sul são o tabagismo, trabalho em locais muito poluídos – em especial em fábricas -, exposição ao fogo e à fumaça (em locais como indústrias e frigoríficos, e atividades como de costureiras e jateamento de produtos).

 

Quais os principais desafios atuais dos pacientes de DPOC?
Sem dúvida é o não diagnóstico precoce. Estudos na cidade de São Paulo mostraram que 70% dos portadores de DPOC não tiveram diagnóstico precoce. A população e muitos profissionais de saúde (inclusive médicos) atribuem a DPOC à idade ou senilidade e não levam em conta a história de exposição à fumaça. Sem diagnóstico clínico e exames de função pulmonar (espirometria), não há garantia de que o paciente tenha o diagnóstico e o tratamento adequado.

Outra necessidade para o controle da DPOC é cessar o tabagismo e as exposições nocivas às fumaças.

 

Como você avalia o protocolo atual de tratamento da DPOC?
Os protocolos (PCDTs) Estaduais e Nacionais atuais estão de acordo com as diretrizes mundiais. Eles mitigam as lesões e melhoram a qualidade de vida, porém se não cessar a exposição a gases nocivos, nada muda. Em particular, o Brasil tem  um  grande e eficaz programa de cessação de tabagismo em quase todo o país, mas as exposições laborais nem sempre são identificadas precocemente.

 

Como avalia a adesão ao tratamento da DPOC pelos pacientes? Se preciso, como podemos melhorar essa adesão?
A maior parte dos pacientes são idosos e alguns de baixa renda, muitos fumaram por longo tempo. Assim, iniciar um tratamento com medicamentos inalados requer um time de profissionais de saúde que, a cada visita de seguimento, reveja o uso adequado dos medicamentos e a adesão do paciente, assim como as interrupções e escapes da cessação do tabagismo, por exemplo. Mas o tratamento disponível hoje é eficaz e melhora a qualidade de  vida. Quanto mais cedo começar, melhor será a resposta!

 

Quais os desafios para oferecer melhor cuidado aos pacientes?
Criar em cada centro de saúde de qualquer natureza um time de atenção multidisciplinar ao processo de cessação de consumo de tabaco e exposições a voláteis, com seguimento direcionado para interrupção de inalação de gases nocivos sempre que possível.

 

Quer saber mais? O novo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas foi publicado pelo Ministério da Saúde em junho de 2021 e está disponível aqui.
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