Rita Ferraz teve tuberculose nove vezes, e desde 2015 enfrentou ao menos duas pneumonias por ano. Depois de pegar uma…
Rita Ferraz teve tuberculose nove vezes, e desde 2015 enfrentou ao menos duas pneumonias por ano. Depois de pegar uma chuva forte em dezembro de 2018, ela afirma que sua saúde pulmonar piorou. No pronto-socorro, a médica que a atendeu decidiu pedir uma tomografia e veio aí a suspeita de fibrose pulmonar. Poucos dias depois, foi atendida por um pneumologista que a encaminhou para o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo diante da gravidade do quadro.
Foram, então, seis meses de vários exames até a indicação de uma pneumectomia, procedimento cirúrgico para a retirada de um pulmão. A cirurgia foi realizada em outubro de 2019. “Depois da cirurgia, fiquei com essa sigla de DPOC”, conta ela, a respeito do diagnóstico recebido de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Na avaliação clínica, a paciente evidenciou os seguintes sinais e sintomas: tosse e/ou expectoração, dispneia (falta de ar) e sibilos (chiado no peito).
Rita é acompanhada ainda no Hospital das Clínicas. “É um excelente hospital em todos os aspectos. Hoje sou paciente contínua de lá. Pego todas as medicações na farmácia do HC, só a bombinha que é mais cara pego na farmácia de alto custo. Nunca tive dificuldade de acesso ao tratamento aqui em São Paulo. Claro que às vezes na farmácia do HC falta algum remédio, mas aí procuro pelo aplicativo e pego em alguma UBS. Já a bombinha, nunca faltou”, conta.
Hoje o quadro de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) de Rita é avaliado pelos médicos como de moderado à grave. Apesar de ter bronquiectasia no pulmão esquerdo, ela não faz uso de oxigenoterapia. Mesmo com desconto de laboratório, o broncodilatador que ela usa custa R$300, e por isso ela recorre à farmácia de alto custo. Ao participar de vários grupos de pacientes com DPOC e bronquiectasia, Rita sabe que em outras regiões do país o acesso aos medicamentos só é possível graças a ações judiciais. Mas ela também diz que é preciso empenho dos pacientes para não se deixar abater e viver à espera de ajuda de familiares e amigos. E ela fala com conhecimento de causa. Hoje em dia, a aderência ao tratamento é tranquila para Rita. Mas nem sempre foi assim.
“Eu fumei até 2010 e tinha muita repulsa em tomar medicação para tuberculose. Fazia o tratamento por dois anos e depois o abandonava. Muitas vezes, a equipe da Secretaria de Saúde ia até minha casa para fazer acompanhamento assistido. Não sei explicar o porquê agia assim. Mas hoje eu procuro entender a minha doença e saber o que a medicina tem de novo para mim. Eu não dei ouvidos lá atrás e hoje, de certa maneira, eu colho uma consequência ruim da minha escolha. Mas o SUS tem tratamento acessível sim, tanto para tuberculose quanto para DPOC”, relata.
Mais recentemente, Rita teve covid-19 e passou pelo protocolo de reabilitação pulmonar. Atualmente ela faz hidroginástica e frequenta a academia na busca por melhor qualidade de vida. “Aprendi que a reabilitação nada mais é do que exercício. O diferencial é que lá o fisioterapeuta monitora a pressão e a oxigenação. Então, aplico o que aprendi”.
Rita, que trabalhava como vigilante, não atua há mais de quatro anos. Ela buscou o auxílio por meio do INSS, mas não conseguiu. “Não é fácil. Parada eu consigo conversar tranquilamente, mas se eu começar a andar eu já não consigo falar ao mesmo tempo. Minha casa tem 16 degraus. Eu subo e sento no sofá até minha respiração normalizar”.
Seus filhos, já adultos, vivem com ela e testemunham a perseverança da mãe em relação ao tratamento para DPOC. “As pessoas que não sabem da minha doença olham apenas a aparência. Mas eu costumo dizer: você não vê, mas eu sinto. Eu acredito que a medicina está evoluindo bem e a ciência vai também inovando nas medicações. Mesmo que não tenha cura, que ao menos estacione a doença, porque mesmo com cuidados ela é progressiva. Eu vou continuar buscando minha sobrevida com qualidade e seguindo meu tratamento sem falhar.”