A alimentação exerce papel importante no tratamento de Insuficiência Cardíaca. A doença provoca efeitos sistêmicos no organismo e compromete o…
A alimentação exerce papel importante no tratamento de Insuficiência Cardíaca. A doença provoca efeitos sistêmicos no organismo e compromete o estado nutricional de pacientes, prejudicando a absorção de nutrientes, elevando o gasto energético e gerando um desequilíbrio anabólico.
Não é à toa que o acompanhamento nutricional faça parte do atendimento multidisciplinar de saúde dos pacientes. Por esse motivo, a nova modalidade do Capacit-As, voltada para profissionais de saúde de equipe multidisciplinar, tem uma aula específica sobre o tema. Nós convidamos a nutricionista especialista em atenção cardiovascular do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Jordana Santos, para esclarecer sobre os efeitos de uma nutrição adequada no bem-estar de pacientes com IC. Confira na entrevista as dicas de alimentação para quem vive com Insuficiência Cardíaca:
Reduzir gradualmente e de forma progressiva o sal de cozinha adicionado no preparo dos alimentos será mais bem tolerado do que tentar cortar drasticamente. Auxiliando esse processo, o uso de temperos como manjericão, salsinha, pimenta-do-reino, orégano e outras ervas e especiarias vai trazer sabor e nutrientes às preparações e melhorar a tolerância à redução do sal.
Devemos evitar o consumo excessivo de alimentos industrializados. Eles recebem altas quantidades de conservantes e condimentos para manter um sabor atrativo e conservar o produto por mais tempo. Por isso, acabam trazendo uma grande quantidade de sódio. A exemplo disso, temos: embutidos como presunto e salame, salgadinho, bolachas doces e salgadas, refrigerantes, carnes processadas, hambúrgueres e pizzas congeladas. Identificar o quanto esses alimentos fazem parte da sua rotina alimentar e restringir seu consumo é uma boa estratégia.
Também se deve evitar e até excluir do uso diário os temperos prontos, que são aqueles em sachês, tabletes ou líquidos, prontos para uso e ricos em sódio. E que, ainda, recebem outros tipos de conservantes e aromatizantes. Outra estratégia é retirar o saleiro da mesa a fim de evitar acrescentar mais sal à refeição já pronta e servida.
Além disso, podemos buscar indicações na própria embalagem de que o produto pode ou não ser uma boa aquisição. Hoje com a nova rotulagem nutricional temos a indicação de produtos a partir da denominação “alto em sódio”. Ainda, deve-se preferir os alimentos com as indicações: “sem sal”, “sem adição de sal” ou “com baixo teor em sódio”.
Os principais padrões alimentares cardioprotetores se assemelham em alguns pontos. Por exemplo, quanto às gorduras, orientamos o uso de óleos vegetais e azeite de oliva para o preparo dos alimentos, evitando o uso de óleos tropicais (palma e coco) e banha de porco. Em relação às carnes, é importante limitar o consumo semanal de carne vermelha e dar preferência a peixes, carne de frango, ovos e leguminosas como feijão, lentilha e grão-de-bico.
Preferir a ingestão de leite e derivados semi desnatados ou desnatados, que são reduzidos em gordura e fontes importantes de proteína. Os cereais integrais como o arroz integral, a aveia e a quinoa, assim como sementes integrais como a linhaça, a chia, o gergelim e a de abóbora podem ser acrescentados nas preparações. Eles trazem nutrientes importantes para a proteção cardiovascular. O consumo diário e variado de frutas e vegetais também é importante nesse cenário.
A alimentação envolve crenças, sentimentos e cultura que estão inseridas em nossa rotina e influenciando as escolhas alimentares. Quando mudanças precisam acontecer, comportamentos de uma vida toda precisam ser ajustados e mantidos, o que pode ser um desafio.
Reconhecer o que precisa ser modificado é o primeiro passo para a mudança. Esse, por sua vez, é um processo que exige paciência e, principalmente, disciplina, que será facilitado pela presença de uma boa rede de apoio. Para engajar a todos que moram no domicílio, é importante esclarecer que a redução no consumo de industrializados e de sal, assim como o aumento na ingestão de frutas e verduras, são exemplos que irão beneficiar a família toda.
Para auxiliar na busca por uma alimentação saudável, podemos citar: não pular refeições, não consumir frituras e alimentos gordurosos diariamente, evitar o excesso de produtos industrializados na alimentação, buscar realizar as refeições sem pressa e preparar as próprias refeições.
Não se deve encarar a refeição do paciente como uma comida diferente e que deve ser preparada separada daquela dos demais membros da família. Ao se tratar de pacientes com IC, os ajustes alimentares devem ser vistos como parte do tratamento da doença, pelo paciente e seus familiares, a fim de facilitar e melhorar a adesão. É importante buscar estratégias que façam sentido para o paciente e que possam ser mantidas a longo prazo. Deve-se também fugir de propostas milagrosas, nenhum alimento ou nutriente sozinho promoverá o tratamento nutricional que a doença necessita. A alimentação é o conjunto das nossas escolhas.
Conforme envelhecemos vamos perdendo a quantidade e qualidade de nossos músculos. A progressão da IC também pode contribuir para intensificar essa perda muscular e de força. Isso pode prejudicar a funcionalidade do paciente em suas atividades diárias e inclusive afetar a mastigação e deglutição dos alimentos.
O papel da nutrição nesse cenário é garantir que o paciente esteja consumindo os nutrientes em quantidades suficientes para recuperar ou minimizar essas perdas, bem como verificar se a consistência dos alimentos precisa ser ajustada. Assim, a equipe em conjunto irá discutir a necessidade de ajustes na dieta e até o uso de suplementos nutricionais de acordo com a situação clínica do paciente.
Nesse cenário, envolvendo restrição alimentar, o ideal é procurar por atendimento nutricional. O nutricionista irá planejar em conjunto com o paciente a dieta para que seja possível atender as necessidades nutricionais, sem causar deficiências em razão da restrição alimentar.
O Capacit-AS é um programa educacional online e gratuito promovido pela Abraf, com o apoio da Novartis. Nesse módulo, participantes terão acesso a conteúdos sobre o que é insuficiência cardíaca, tratamento baseado em evidências, adesão ao tratamento e alimentação. A qualificação é voltada para equipes multidisciplinares de saúde, incluindo assistentes sociais, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, técnicos de enfermagem, enfermeiros e estudantes dessas áreas.
Acesse aqui a plataforma do curso para conferir a aula completa da nutricionista Jordana Santos com dicas de alimentação para quem vive com Insuficiência Cardíaca.