Conheça os riscos e saiba como parar de fumar

O uso do cigarro provoca diversos prejuízos à saúde. As milhares de substâncias tóxicas presentes na fumaça estão associadas a…

O uso do cigarro provoca diversos prejuízos à saúde. As milhares de substâncias tóxicas presentes na fumaça estão associadas a diversas doenças graves, como câncer, infarto, AVC e DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica). De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano, sendo que mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto do tabaco, enquanto cerca de 1,2 milhão de pessoas morrem devido à exposição ao fumo de forma passiva. Mas mesmo sabendo dos riscos, abandonar o tabagismo não é tarefa fácil.

Para esclarecer sobre os riscos à saúde e trazer dicas de como abandonar o cigarro, nós conversamos com a médica pneumologista dra. Angela Honda, líder de Programas Educacionais da Fundação ProAR. Ela explica que o tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina presente em produtos à base de tabaco.

 

Quais os principais riscos à saúde causados pelo cigarro?

A nicotina, presente no tabaco, causa dependência. Há diversos produtos derivados de tabaco: cigarro, charuto, cachimbo, cigarro de palha, cigarrilha, bidi, tabaco para narguilé, rapé, fumo-de-rolo, dispositivos eletrônicos para fumar e outros. Cabe ressaltar que a disseminação da nicotina se dá para todos os tecidos do corpo, como pulmão, cérebro e outros. Ela também é encontrada na saliva, no suco gástrico, leite materno, músculo esquelético e no líquido amniótico.

A fumaça do cigarro é uma mistura de aproximadamente 4.720 substâncias tóxicas diferentes. Ela se constitui de duas fases fundamentais: a particulada e a gasosa. Na fase gasosa estão presentes monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína. Já a fase particulada contém nicotina e alcatrão.

Essas substâncias tóxicas atuam sobre os mais diversos sistemas e órgãos e contém mais de 60 cancerígenos. O tabaco fumado em qualquer uma de suas formas causa a maior parte de todos os cânceres de pulmão e contribui de forma significativa para acidentes cerebrovasculares e ataques cardíacos mortais. Os produtos de tabaco que não produzem fumaça também estão associados ou são fator de risco para o desenvolvimento de câncer de cabeça, pescoço, esôfago e pâncreas, assim como para muitas patologias buco-dentais.

 

Cigarros eletrônicos também são fatores de risco?

A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia se posiciona veemente contra a liberação da comercialização, importação e propagandas de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar. Os cigarros eletrônicos são conhecidos no Brasil pelo termo Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs). São chamados também de “vapes”, e-cigarros, e-cigs, e-cigarettes ou “pen-drive”. Os DEFs são uma ameaça à saúde pública, porque representam uma combinação de riscos: os já conhecidos efeitos danosos à saúde e o aumento progressivo do seu uso no país. Em especial, esses dispositivos atraem pessoas que nunca fumaram, persuadidas pelos aromas agradáveis, sabores variados, “inovação tecnológica” e estigmas de liberdade.

Sabemos que os cigarros eletrônicos contêm nicotina e várias dezenas de substâncias químicas, incluindo cancerígenos comprovados para pulmão, bexiga, esôfago e estômago. Há, ainda, o risco de explosões do aparelho e intoxicação.

De forma sorrateira, a indústria do tabaco lançou esses produtos no mercado usando duas estratégias principais: o discurso de redução de danos em relação ao tabagismo convencional e como opção de tratamento para cessação dos cigarros combustíveis. Outra jogada foi propalar que os produtos não contêm monóxido de carbono e, assim, tentar normalizar novamente o seu uso, inclusive em ambientes fechados. Apresentados como “saudáveis”, os DEFs seriam a “solução tecnológica” para o anseio de uma importante fração de tabagistas: a ideia de poder fumar sem culpa, já que o produto “se trataria apenas de vapor de água” e não conteria substâncias tóxicas e perigosas. Entretanto, não é essa a realidade sobre esses dispositivos.

 

Quais doenças os cigarros eletrônicos podem causar?

Estudos científicos mostram que o uso dos DEFs, tanto agudo como crônico, está diretamente ligado ao surgimento de várias doenças respiratórias, gastrointestinais, orais, além de causar dependência e estimular o uso dos cigarros convencionais. Em contrapartida, o conhecimento sobre esses malefícios ainda é pouco difundido entre seus usuários.

A EVALI, sigla em inglês para lesão pulmonar induzida pelo cigarro eletrônico, é uma doença pulmonar relacionada ao uso dos DEFs, descrita pela primeira vez no ano de 2019, nos Estados Unidos. Essa lesão foi atribuída, inicialmente, a alguns solventes e aditivos utilizados nesses dispositivos, provocando um tipo de reação inflamatória no órgão, podendo causar fibrose pulmonar, pneumonia e chegar à insuficiência respiratória. Até janeiro de 2020, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, registrou 2.711 casos de EVALI hospitalizados e, até fevereiro do mesmo ano, 68 mortes foram confirmadas. A faixa etária média era de 24 anos, 66% dos acometidos pertenciam ao sexo masculino e o tempo médio de utilização foi de 12 meses.

 

Por que é tão difícil abandonar o cigarro?

Gosto muito dessa informação que é bem importante: “Apesar do adoecimento e a morte causada pelo tabagismo se manifestarem entre adultos, ela começa na infância. Hoje, vários estudos corroboram que 90% dos fumantes iniciaram até os 19 anos e 50% dos que experimentaram 1 cigarro se tornaram fumantes na vida adulta (Cinciprini, 1997).”

A maioria dos estudos pré-clínicos e clínicos aponta a nicotina como o principal agente responsável pelo desenvolvimento da dependência ao tabaco. Muitos trabalhos têm demonstrado que as bases neurais da dependência à nicotina são semelhantes àquelas das outras drogas de abuso.

Associada às alterações neurológicas existe ainda a dependência comportamental de reforço positivo que o cigarro causa ao indivíduo. A síndrome de abstinência que ocorre logo após a suspensão da nicotina claramente mostra a enorme liberação e desequilíbrio de substâncias levando a sinais e sintomas mediados por receptores colinérgicos nicotínicos centrais e periféricos no cérebro.

 

Como começar esse processo de abandonar o vício?

Para o fumante: é se munir de informações corretas e de qualidade e entender que ele tem uma doença que é possível de ser tratada, pois a cessação do tabagismo tem apresentado grande sucesso e com menor sofrimento que no passado. Existem profissionais capacitados para o auxílio e tratamento desse paciente. Fazer a família e os amigos entenderem que o paciente foi uma “vítima”, pois provavelmente quando iniciou o fumo não sabia que a nicotina era um viciante tão poderoso.

Para os familiares: entender sobre o ciclo da dependência, como ajudar o paciente na rotina do dia a dia, evitar as “armadilhas” que mantém o ciclo da dependência e ter as informações corretas.

 

Que dicas você dá para ajudar fumantes a deixarem de fumar? Existem alguns hábitos que podem ajudar?

A primeira dica é se considerar dentro de um tratamento: tabagismo é doença e por isso precisa ser tratada. É importante que os familiares e amigos próximos e de maior convívio saibam que o paciente está em processo de cessação do tabagismo.

Procurar ajuda profissional capacitada e seguir corretamente todos os passos. Os pacientes de maior sucesso na cessação geralmente passam por um grupo multidisciplinar, pois o tratamento pode necessitar de um medicamento de prescrição e de um acompanhamento comportamental com psicóloga.

Outra dica é deixar os cigarros que você vai fumar no período da manhã separados do maço, pois sempre digo que maço de cigarro é igual caixa de Bis, enquanto você não vê o fim, vai comendo. Por isso, torne o ato de fumar consciente, pois o hábito faz com que você fume sem perceber e sem precisar.

E por último, experimente dar 3 tragadas e apagar o cigarro, normalmente você não tem necessidade pelo vício de fumar o cigarro inteiro.

Existem medicamentos que podem auxiliar no combate ao tabagismo?

Atualmente temos medicamentos estudados e aprovados para uso no tratamento específico de cessação do tabagismo e, quando bem indicados e utilizados, realmente ajudam os pacientes.

 

Na versão resumida do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Tabagismo, que você encontra aqui, estão disponíveis informações para auxiliar na avaliação do grau de dependência e também boas práticas para o tratamento.

Você pode conferir aqui o posicionamento completo da Sociedade brasileira de pneumologia sobre os cigarros eletrônicos.

A Associação Médica Brasileira também traz muita informação sobre os riscos dos cigarros eletrônicos.

E não se esqueça: na Abraf você encontra apoio para deixar de fumar!