Como a hipertensão pulmonar me transformou, tornando-me mais compassiva e ajudando-me a lidar com o transtorno de estresse pós-traumático

5 de agosto de 2019 Por Colleen Steele Quando meu filho foi diagnosticado com hipertensão pulmonar (HP), eu notei uma…

5 de agosto de 2019

Por Colleen Steele

Quando meu filho foi diagnosticado com hipertensão pulmonar (HP), eu notei uma mudança na forma como as pessoas interagiam comigo. Elas hesitavam antes de compartilhar problemas pessoais, e quando compartilhavam, muitas vezes pediam desculpas: “Eu não deveria reclamar porque não é nada comparado ao que você está passando”.

O que eu sinceramente tento explicar é que eu não fico medindo os problemas das pessoas. Viver é difícil, e a maioria das pessoas passa por algum desafio. Nós todos sabemos como é se sentir triste, assustado, bravo, frustrado, etc., e a melhor maneira de enfrentar estes momentos é compartilhando nossos sentimentos com os outros.

É irônico que evitemos compartilhar nossos problemas com pessoas que acreditamos estar carregando fardos maiores, porque essas são provavelmente as melhores pessoas para se buscar quando se precisa de ajuda. Conviver com os problemas de saúde do meu filho aperfeiçoou minha habilidade de ouvir os outros e elevou minha compaixão. Ser a ouvinte ou o ombro no qual os outros podem chorar também me ajuda a sentir que a minha vida não tem só um lado. Faz bem para a minha saúde mental não ser sempre aquela que recebe compaixão, mas também ser aquela que a oferece.

Se prepare, no entanto, pois eu posso ficar emocionada com você. Esta é uma mudança que eu sofri e que levou um tempo para que eu me acostumasse. Eu sempre fui uma pessoa sensível, mas as lágrimas eram geralmente derramadas quando eu estava sozinha. Isso rapidamente mudou quando meu filho ficou gravemente doente.

Minha nova falta de controle emocional muitas vezes me surpreendia e fazia com que eu me sentisse constrangida e culpada. Eu também temia que chorar me fizesse parecer fraca e incapaz de ser forte pelo meu filho. Eu eventualmente percebi que chorar requer menos energia do que não chorar. Agora eu penso no choro como uma forma de conservar minha energia. É uma resposta humana saudável e, como um médico uma vez me disse: “Colleen, eu ficaria mais preocupado se você não estivesse chorando!”

O autor dessa frase é desconhecido, mas é uma frase que eu passei a apreciar: “Uma pessoa forte não é aquela que não chora. Uma pessoa forte é aquela que chora e derrama lágrimas por um momento, e então se levanta e luta mais uma vez”

Cuidar do meu filho ao longo da HP e das experiências pós-transplante me causou transformações positivas que eu jamais poderia ter imaginado. Eu passei a respeitar a pessoa hipersensível, compassiva, atenciosa  que eu sou hoje, mas inevitavelmente, eu também sofro com o que eu acredito ser transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

As pessoas muitas vezes me perguntam se eu me preocupo menos e se eu me sinto mais calma depois que o meu filho passou pelo transplante. De modo geral, a resposta é sim, mas depois de 10 anos lidando com emergências, meu cérebro está programado para sempre estar em alerta para os perigos. Eu durmo melhor, mas após anos prestando atenção nos barulhos que meu filho fazia durante a noite, eu ainda acordo com o menor ruído. O mesmo problema desvia a minha atenção de simples prazeres como ler um livro ou assistir televisão, e fazer várias coisas ao mesmo tempo se tornou muito mais desafiador. Aprender a viver sem estar constantemente preocupada está demorando mais do que eu esperava.

Tendo passado muito tempo em hospitais, onde não é incomum abordar e confortar um estranho angustiado, eu me pego lutando contra o impulso de fazer o mesmo no “mundo real”. Tem sido desafiador equilibrar a minha compaixão de uma maneira saudável e nem sempre demonstrar meus sentimentos abertamente.

Um sintoma comum de TEPT é a sensibilidade a certos barulhos. Durante cinco anos meu filho tomou uma medicação intravenosa, Flolan, e a bomba que a administrava tinha um alarme para nos notificar se ela parasse de funcionar. Até hoje, se eu ouvir um som similar ao daquele alarme, meu coração dispara, e eu começo a me sentir ansiosa. Sons parecidos aos que são ouvidos em hospitais também causam a mesma resposta.

A HP me transformou, mas algumas pessoas ficam ainda mais surpresas com a maneira como ela não me transformou. Eu ainda ocasionalmente me preocupo com coisas pequenas e fico irritada com miudezas e idiossincrasias. Em dias dominados pelos aborrecimentos do cotidiano, algumas pessoas me lembram que eu deveria ser grata pelo meu filho estar bem. Acredite, eu não preciso que eles me lembrem – mas eu ainda sou humana.  Se eu estiver estressada com algo trivial, fique feliz por mim, pois não ter questões mais urgentes pesando na sua mente é uma mudança bem-vinda.

Mudar é difícil, principalmente quando é algo tão pessoal. O livro “Chicken Soup for the Soul: Think Possible” cita um autor desconhecido: “Superar uma experiência dolorosa é como atravessar um trepa-trepa. Em algum momento, você precisa se soltar para continuar prosseguindo. Eu tive que abandonar a pessoa que eu era antes da HP para prosseguir. Ao fazer isso, eu provei para mim mesma que, embora eu tenha mudado, eu não estou quebrada.

Artigo originalmente publicado por Pulmonary Hypertension News